terça-feira, 14 de julho de 2020

Um cabelo rosa, uma função

Pintei o cabelo de rosa durante a quarentena!

Mas não foi com papel crepom não... procurei modelo na internet, liguei pra um salão de confiança (quando já podia ir), fiz mechas californianas e matizei com o rosa por cima. Depois de 15 dias já estava "quase" loira de novo... e fui passando rosa (em casa mesmo com shampoo especial) pra manter a cor, porque eu simplesmente AMEI o resultado.

Expectativa

Realidade


Quem me conhece há mais tempo sabe que, desde entrei na ESALQ, cada ano testava uma cor diferente no cabelo. Era ruivo, ruivo com loiro, ruivo com loiro e castanho, loiro, mega loiro, castanho e loiro, meio castanho e meio loiro, meio ruivo e meio castanho, loiro e castanho... até que eu cansei de ter que ir no salão a cada 40 dias e me prometi que só pintaria o cabelo de novo quando os cabelos brancos começassem a aparecer.



Eis que por ironia da genética, eles ainda não apareceram! (Ainda que meus tios e minha mãe tivessem os cabelos brancos desde os 20 e poucos...)

E durante essa quarentena aqui na Espanha, meu lado criativo voltou à tona... parecia que estava dormindo e sem querer ser muito incomodado. Mas daí surgiu aquela vontade master de tocar violão, de cantar, de gravar vídeos, de fazer lives (toda uma novidade na minha vida...) e eu gostei da brincadeira.

E bateu aquela vontade do fundo da alma: não estou viajando, não estou diante de nenhum cliente, ninguém vai me ver a não ser que eu queira que me vejam... por que não fazer uma "loucurinha" no cabelo?

MAS FICOU TÃO LEGAL! Que eu já não estava nada preocupada se iam me ver, o que iam achar e todas as indagações que eu colocava como desculpa pra não fazer algo do tipo no cabelo. Tanto que algumas das primeiras pessoas que receberam fotos do novo look foram colegas de trabalho e meu chefe.

Eu me olhava no espelho e me reconhecia com essa cor de cabelo. Teve até uma amiga que disse: você nasceu pra ter essa cor de cabelo!

Com tanto bom feedback, incluindo o meu mesmo, decidi seguir com a cor e voltar ao escritório com as madeixas roseadas... Sem remorso, sem vergonha, sem um pingo de medo do que poderiam achar e falar daquilo. Até mesmo fiz apresentações online a clientes da Índia e um Webinar interno. Teve gente que achou que era reflexo da cortina, teve gente que comentou, que perguntou etc. Mas nunca tive um mal comentário à respeito da mega cor.

Voltando ao escritório, vários dos comentários começaram a ser um pouco mais "esquisitos": olha, a Camila tem um lado rebelde que não conhecemos! Vai seguir assim? O José (chefe) falou alguma coisa? O que o seu marido achou disso?

Mas teve um comentário em concreto que bateu e doeu. E eu aprendi há algumas semanas... "bateu e doeu, pega que é teu". E eu tive que consultar com a consciência, com o chefe, com colegas e até foi assunto de  terapia. O tal comentário-gatilho foi:

"Mas você vai CONSERTAR o cabelo quando for falar na frente de clientes?"

Primeiramente quero separar o tema, porque muita resposta recebida foi jogada pro lado do feminismo e do ponto de vista do "você é mulher e faz o que bem quiser do seu cabelo e da sua vidaaaaa!!". Sim, eu concordo, mas não era por aí. Era mais uma questão de IMAGEM PROFISSIONAL.

Há alguns anos inclusive fiz um trabalho de imagem pessoal com uma pessoa especializada no assunto. Eu sou o ser mais preguiçoso do mundo quando se trata de combinar roupas, acessórios e etc. Imagina só, até alguns anos atrás, eu ia pra faculdade de calça legging e qualquer camiseta por cima! E quando ia pro campo era polo da empresa, botina, calça jeans e foda-se. 

Mas pra estar em eventos internacionais ou em reuniões com consultores, precisava dar uma melhoradinha. E eu investi nisso... ainda que siga usando vestido de tênis e chamando isso de estilo! (E É - o meu).

Mas agora meu cabelo é rosa. E eu amo meu cabelo rosa. E me sinto feliz e realizada com o meu cabelo rosa. E acho que trás à tona minha criatividade, minha cara de cientista, a cara da menina da pesquisa. 

Eu não quero ser a louca dos eventos - conheço algumas que usam uma camiseta com a própria cara  e a frase: "Oi, eu sou a fulana!". Não quero ser essa pessoa e não quero ser reconhecida por ser "a menina do cabelo rosa".

Mas quando as pessoas me conhecerem, ou me escutarem em algum evento ou reunião... eu vou gostar de colocar na cabeça deles: "Olha, achei ela bem interessante e profissional... e que curioso, ela tem o cabelo rosa".

Fiquei pensando se eu faria uma entrevista com o cabelo rosa: a resposta é SIM!

Fiquei pensando se eu colocaria uma foto atual no LinkedIn: a resposta é SIM!

Vou "consertar" o cabelo quando for encontrar um cliente? A resposta é NÃO.

Meu trabalho fala por conta própria. Minha equipe é bem situada. Meus resultados são entregues todos os anos... com poucos recursos pra isso.

Então sim, eu estou me dando liberdade pra ter cabelo rosa nesse momento. É "só" mais um detalhe encima das outras características que eu tenho que, talvez..., possam não ser os mais bem vistos do mundo profissional que habito: ser mulher, ser brasileira, ser bocuda PRA CACETE, ser aberta e honesta até demais...

Assim que... deixarei o cabelo rosa permanecer. Pelo tempo em que eu estiver olhando no espelho e me vendo ali.




Adoraria saber o que vocês acharam desse desabafo... e opinião sobre imagem profissional versus cor do cabelo!

Deixo dois links bem legais de textos que eu li sobre o assunto, pra melhorar ainda mais a discussão: