sábado, 11 de fevereiro de 2023

O tal do salário emocional e outros devaneios

Esse texto nasceu de um desabafo sobre gente que reclama, passou por discussões geracionais, e terminou como um pouco da minha história profissional, numa semana muito importante para mim e para a minha "nova" empresa.

Eu passei quase 7 anos da minha vida me sentindo pouco valorizada e mal paga. Eu ganhava o referente à uns 700 Euros por mês. 700.

Não participava de convenções, viajava somente pra apagar fogo no Ministério. Ou pegava o carro (às vezes o meu próprio) e dirigia 800 km em um dia, só pra descobrir que meu ensaio de 6 meses tinha sido colhido por erro e os dados tinham sido perdidos.

Tomei choque em chuveiro de hotel e passei frio em Mucuge-BA. Enquanto pensava que o pesquisador que eu acompanhava ia morrer por falta de insulina - porque ele era diabético e tinha esquecido as seringas. Num hotel sem Internet. Não existiam dados nos telefones celulares nessa época.

Mas eu sempre amei o que eu fazia.

Amava inventar produtos novos e testar tudo. Fosse no campo ou no fundo do estoque da empresa. Sentada no chão e coberta de substrato. Ou ajudando a trocar as etiquetas por um erro que eu mesma tinha cometido na importação.

Taí a foto pra não parecer mentira.
(Com o meu Motorola PiBL verde, que eu nunca superei <3)


Sempre tive orgulho de "fazer comida pra planta", ver aumentar a qualidade das hortaliças, ver que os sabores e as cores eram tão bem percebidos pelos consumidores. Que bonito era isso e segue sendo bonito.

Mas como eu disse... eu ganhava uns 700 Euros por mês.  E me perguntava se aquilo tudo valia à pena.

Aproveitei pra estudar no meu tempo livre. Meu primeiro curso de pós-graduação eu paguei do bolso. Voltei a morar com os meus pais pra "facilitar" - dirigia 150 km todos os dias pra ir e voltar do trabalho. Destruí meu carro em 1 ano...

A segunda pós-graduação era de graça. Mas eu tinha que tirar horas de trabalho pra ir nas aulas. E depois pagava quando dava (noites e fins de semana). Peguei duas férias pra montar o experimento e pra colher. Passava todos os dias, duas vezes ao dia, por 110 dias, para regar o experimento. Fins de semana e feriados incluídos.


Todo dia isso

Além dos cursos técnicos eu me metia em tudo que era curso de comunicação, de relações interpessoais. Fui entender como lidar com os colegas, com os diretores, com o chefe do momento. Comigo mesma.

Eu ganhava 700 Euros por mês. Mas eu tirava proveito de tudo!!

A coisa começou a mudar quando eu me mudei pra Espanha. E isso somente aconteceu porque eu me fiz conhecer. Eu viajei com o pessoal daqui, eu mandei emails informativos, eu aprendi a falar espanhol, eu deixei de lado noites, fins de semana e feriados pra estar com meus colegas internacionais sempre que possível. Dei um salto de responsabilidade, de título, de salário também. Tô rica??? Não... mas vivo dentro das minhas possibilidades e aproveito como posso!

Pra isso tudo acontecer eu atravessei um oceano. Eu deixei minha família e meus amigos pra trás.  Eu arrastei meu marido e minha gata. E eles toparam me seguir. Porque eles partilhavam a minha visão do "isso tem que dar certo a partir de agora".

Foi então que eu comecei a ter equipe! E daí eu não quis que a minha equipe "sofresse" o mesmo processo que eu. Eles eram até tecnicamente melhores que eu! Eu podia muito bem passar minha experiência pra eles, como líder.


A equipe original


Parece ser que não funciona bem assim. Por vários motivos, vejo as pessoas entrando e saindo da empresa - por vários motivos diferentes - pulando de um lugar para outro e eu vou me sentindo uma alienígena que ficou no mesmo lugar, só que não!

Nos últimos dois anos, vejo que os jovens saem da faculdade achando que merecem um mega salário já de cara! Cursos? Obrigação da empresa dar. Um ambiente bom, home office, seguro de vida, seguro saúde, ticket restaurante.

Nada mais do que a obrigação da empresa me dar tudo isso!!! Não é??

Não, seu salário não está fora do mercado. É você que ainda não tem a experiência necessária pro seu cargo.  Estamos te preparando pra ele.

Não, você ainda não tem as soft skills pra ter uma equipe.  Comece com um estagiário e tente tirar proveito dele. Não ele de você.

Não... as pessoas não saem da empresa por dinheiro. Elas saem porque elas não estão comprometidas com o projeto. E tudo bem.

Tem gente que prefere ganhar mais e trabalhar com tubos de plástico. Eu não conseguiria.

Eu já disse "não" pra várias outras empresas porque não necessariamente eu trabalho na melhor de todas. Mas eu sei onde comecei, onde estou e pra onde posso ir.


A equipe atual + O Chefe


Estamos em um mundo tão agitado e dinâmico. Imagine que temos agora tantos caminhos que podem ser seguidos. Ganhar mais dinheiro fazendo algo chato? Ganhar menos dinheiro mas chegar em casa às 17h00? Parar tudo e voltar a estudar?

Acredito que muita coisa mudou durante a pandemia, porém, trabalhar é difícil sim, e sempre vai ser. Como você se sente em relação à isso é o que pode ditar as suas escolhas profissionais e a sua qualidade de vida. E vejo que pessoas comprometidas e a fim de crescer de verdade, são já poucas... e raras! Mas elas existem, ainda bem!

Esta semana eu tive sensações muito desencontradas: uma delas foi de virar uma peça de museu. E a outra foi de recomeçar "do zero".

Minha empresa agora faz parte de um grupo enorme e portanto... mudou de nome. Eu que passei quase 16 anos da minha vida indo pra "Trade" agora sou da Rovensa Next. Ou será que a Rovensa Next é minha, como a Tradecorp sempre foi?

Vou me apoderar e dizer que sim. Ela é minha.

Pois eu tive o grande prazer de ser convidada pelo Chefe e participei de todo o processo de  transformação e organização dessa nova estrutura. Sabe como? Fazendo acontecer.

Trabalhando muitas mais horas por dia, incluindo fins de semana, viagens de última hora, me fazendo conhecer e conhecendo novas pessoas, pensando mais no todo do que em mim mesma.

Foi um MBA express em 8 meses e seguimos... é tudo lindo sempre? Não! Mas é muito mais positivo do que negativo... pode ter certeza.

Eu posso não ser modelo de inspiração pra ninguém mas eu me encho de orgulho dessa minha história profissional... que só está na metade! (E que metade!)

E espero que a nova geração que está entrando no mercado de trabalho entenda que não é só trabalhar 8 horas por dia e reclamar do salário que tem.

Se divertir, aprender, ter paixão e dedicação pelo que faz também faz parte de uma carreira saudável. E isso... salário nenhum pode pagar.

Stay tunned for more #ILoveMyJob ;)


Com pandemia ou sem pandemia, o corre tá aí pra ser feito!



Um comentário:

  1. Existem funcionários "mercenários" e existem os "missionarios" e por incrível que pareça vc nasceu em um berço de pessoas missionários, sim, são aquelas pessoas que dão o sangue e vestem a camisa. Enquanto os mercenários estão preocupados com o quanto vão ganhar nessa ou naquela empresa.
    Parabéns pela sua colocação, parabéns por ser essa profissional exemplar.
    I LOVE YOU!!

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